Oratório de Natal

"Edição do Arte abraça Brumadinho com Marcus Viana e convidados leva música e esperança a Brumadinho"

A quinta edição do projeto Arte abraça Brumadinho aqueceu os corações de quem foi ao estacionamento central da cidade assistir ao Oratório de Natal, na noite de sábado (14/12).

O primeiro Natal dos familiares e amigos dos 253 mortos e 17 desaparecidos no rompimento da barragem em janeiro deste ano se aproxima. E o multi-instrumentista Marcus Viana e convidados como Sérgio Pererê, Sagrado Coração da Terra, a solista Ana Clara Condé, Transfônica Orkestra, Orquestra Jovem Sinfonia de Betânia, Batucabrum, entre outros, se apresentaram para um público emocionado e sedento de carinho. Quase cem artistas ao todo.

“Mais que um Oratório de Natal, trouxemos uma verdadeira celebração holística musical, cruzando a força da cultura afro-ameríndia às tradições clássicas europeias. Celebramos em música o sonho de um ser humano livre da dor e do sofrimento sobre um planeta em equilíbrio”, explicou Marcus Viana.

O projeto Arte abraça Brumadinho, criado por Carlos Netto após o rompimento da barragem, formou uma rede de voluntários no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Todos os eventos são gratuitos e o objetivo principal é dar visibilidade à comunidade afetada pelo rompimento da barragem e promover reflexão sobre alternativas de reconstrução simbólica e concreta da cidade.

“Seres humanos são os melhores presentes de Deus para outros seres humanos. A vida é melhor assim”, afirma Netto.

No show foram apresentados grandes clássicos de Marcus Viana como Pátria Minas, Asas, Sagrado e A paz é a luz do amor, mas também Emmanuel, de Michel Colombier e Murilo Antunes e Coração Civil de Milton Nascimento e Fernando Brant.

Três histórias exibidas em vídeos durante o evento representaram os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao menino Jesus: o ouro (dom), incenso (pureza) e a mirra.

A pureza - os gêmeos Antônio e Geraldo

Juliana e Dennis, pais dos gêmeos Antônio e Geraldo morreram na tragédia. No vídeo, dona Ambrosina conta como a filha amava o Natal e era encarregada de organizar toda a festa e montar a árvore.

"A criança é paz, alegria, é o que nos mantêm em pé. Eu já pensei em falar que não ia ter Natal, mas o Natal continua, poque ela deixou dois filhos. Eu quero que eles tenham Natal igual nós tivemos com a presença da Ju. Eu quero que o Natal que ela dava pra gente, quero dar pra eles”, conta dona Ambrosina.

Para o futuro, seu Geraldo, pai de Juliana, fala em “dignidade, humildade e educação. É um mundo melhor que você já leva e carrega. Passei para os meus filhos e quero passar para os meus netos. O mundo que eles vão achar não é um mundo fácil", desabafa.

Ouro – o dom brilhante de Mariana

Mariana Nascimento, 13 anos, perdeu o pai Denilson Silva no rompimento da barragem. Além de funcionário da Vale, ele era sambista e a tristeza tomou conta da família.

O músico Sanrah Angelo, morador de Brumadinho e que mantém com o irmão Lecy o projeto cultural Batucabrum, conhecia Denilson, sua esposa Claudiana e Mariana.

“Eu queria aproximá-las da música, trazer a família do Denilson para música e chamei Mariana para cantar comigo no Festival Nacional da Canção (49ª edição da Fenac em setembro)”, conta Sanrah.

Ele interpretou, com Mariana, a música Pequeno grão de areia, composta por Sanrah e Marcus Aranha, que concorreu com centenas de músicas e levou o primeiro lugar. E isso teve um efeito positivo enorme em Mariana.

"Junto com a ação de cantar me vem um sentimento de alegria. De felicidade. Eu me sinto bem cantando", explica Mariana no vídeo.

Claudiana fala sobre o poder transformador da música. “Mariana nasceu no berço da música. Eu quero que ela sirva de exemplo, como tem sido, que a música pode salvar, transformar. Que a música pode dar alegria para as pessoas e eu sinto a alegria da minha filha cantando.

Norita e mirra, transformação da dor em perfume

A mirra é usada para curar feridas e como perfume. Significa a alma pura e compreensão plena.

Nora Cortiñas, mais conhecida como Norita, 89 anos, é fundadora e líder das Mães da Praça de Maio, na Argentina. Seu filho Carlos Gustavo foi detido e dado como desaparecido pela ditadura militar argentina. Ela e outras mães, então, decidiram ir para a rua em busca de respostas. A foto do seu filho desaparecido fica sempre no seu peito, reforçando o que move sua luta.

Ela manda uma mensagem às famílias de Brumadinho nesse primeiro natal sem seus entes queridos.

"Aos familiares dessa tragédia que se passou no Brasil, eu os diria que a dor nunca acaba, as feridas sangram. Mas é necessário contornar essa ferida e transformar a dor em luta para que nunca mais ocorra uma desgraça assim. E acredito que devemos lutar para que a indiferença de um governo, do Estado não provoque essas tragédias e esses acidentes tão graves, que custam tantas vidas. E que eu os abraço e desejo que suas feridas sejam restauradas. E que vivendo juntos e levando todo o amor necessário, continuemos a luta”.

Norita é “militante do abraço. Os abraços ativam a endorfina e acolhem aquele que sente o frio das suas perdas", diz ela.

“A música tem o poder de conectar Céu e Terra nos corações das pessoas. Essa é a inspiração deste Oratório: música para curar e elevar. O espírito do Natal não seria exatamente este?”, afirma Marcus Viana.

Assista aos vídeos do evento no YouTube:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLszPgvKN_49q7l6sSVnN3PwU5qd-_H82d